quinta-feira, 29 de agosto de 2019

PAPO R14: FERNANDO NOVAES, TREINADOR DO LSA NATIONAL TEAM E AUXILIAR TÉCNICO DO LSA PRO


Um país que tem milhões de crianças jogando futebol, clubes com dinheiro, estrutura e boa condição social. Tudo isso poderia ser motivo para que os Estados Unidos formassem muitos jogadores de futebol, mas não é.


Sem uma categoria de base bem constituída nos clubes, a aposta do futebol é no atleta universitário. E a National Collegiate Athletic Association (NCAA) é a liga que coordena o cenário esportivo universitário em todas as modalidades.

Muitos atletas são observados pelos clubes na NCAA e acabam escolhidos pelo Draft, a seleção de novos jogadores por parte dos clubes, nos mesmos moldes da NBA e NFL. Na universidade, inclusive, o futebol feminino é mais forte que o masculino.


Na esperança de tornar a MLS (Major League Soccer) uma das ligas mais competitivas do mundo, os Estados Unidos têm investido nas escolinhas de futebol e no esporte universitário. O público nos estádios e o interesse pela TV também aumentaram pela modalidade e há um planejamento para que a MLS alcance reconhecimento mundial até 2022.


Neste bate bola concedido por email diretamente dos Estados Unidos, o treinador Fernando Novaes que é de Fortaleza (CE) vem brilhando na terra do Tio Sam e vamos conhecer um pouco de sua história de superação e conquistas onde ele fala sobre a importância dos treinadores e jogadores estrangeiros no processo de profissionalização do futebol universitário e profissional nos EUA.


BATE BOLA COM FERNANDO NOVAES

Fale um pouco sobre sua formação acadêmica e o início de sua trajetória no futebol.

Sou formado em Educação física desde 2013 pela Unifor. Hoje faço curso de treinador da AFA, que me dará direito de trabalhar na Europa como treinador.

Antes de ser treinador de futebol eu era preparador fisco de atletas, mas minha paixão era o futebol e em 2016 recebi uma oferta de trabalho como treinador em uma academia de futebol de Fortaleza e resolvi aceitar. Com um ano um amigo me falou sobre um curso de treinador no Rio de Janeiro, disse que os destaques eram convidados a trabalhar por um período nos EUA. Então resolvi fazer o curso e me fui convidado para passar 2 meses trabalhando nos EUA durante o Verão de 2017. A empresa gostou do meu trabalho e me convidou para passar mais 2 meses no Outono.


Nesse mesmo Outono de 2017 fui convidado para ser o preparador físico da seleção brasileira de Minifootball na copa do mundo, na Tunísia. Apesar de toda minha vontade de estar com a seleção, não pude aceitar o convite, pois tinha contrato com uma empresa americana e eles não me liberaram e resolvi não quebrar o contrato, já que eles tinham me aberto as portas nos EUA.


Mas em 2018 fui novamente convidado para a seleção, mas agora para ser treinador assistente da sub-20 e preparador físico da principal. Passei um tempo representando a seleção, mas com a saída do treinador, eu também me desliguei da comissão.

Hoje sou treinador do sub-18 do LSA National Team e sou auxiliar técnico do LSA PRO.

Como surgiu a ideia de investir no mercado esportivo?

Quando comecei a trabalhar nessa academia de futebol, que visava mandar jogadores para estudar e jogar e estudar nos EUA vi uma possibilidade de fazer algo no mesmo segmento, porém de uma forma mais objetiva e que pudesse ajudar os atletas verdadeiramente.

Como é a formação do treinador de futebol nos Estados Unidos?

Aqui nos EUA existem algumas confederações e cada confederação tem seus próprios cursos para você poder fazer e atuar como treinador, mas aqui nos EUA só o futebol precisa de licença para trabalhar como treinador, nenhum outro esporte necessita.

De que maneira você avalia a evolução do futebol nos Estados Unidos e que importância têm os treinadores e jogadores estrangeiros nesse processo de profissionalização?

Quando se fala em estrutura não se pode reclamar, aqui eles têm parques com diversos campos. Joguei um final de semana com minha equipe em uma cidade que tinha um parque com 22 campos de futebol. É algo surreal, porém aqui o futebol não é o principal esporte que eles praticam, não é o esporte que eles dão prioridade.


Então creio que esse é um dos motivos que o futebol aqui não evolui tanto quanto outros esportes, porém o número de estrangeiros é muito grande, principalmente latinos americanos e esses gostam muito do futebol e com isso está aumentando a competitividade e melhorando a capacidade de tomada de decisão do atleta americano. Creio que essa convivência e troca de experiência é algo benéfico para que o futebol nos EUA possa evoluir.

Como é estruturado o futebol nos Estados Unidos? Há uma diferenciação muito grande entre a categoria profissional e as categorias de base?

Aqui o forte não é a categoria de base, mas sim as universidades, são lá onde eles realmente investem. Os melhores atletas ganham bolsas esportivas e tem que estudar e tirar boas notas também, se não está fora do time ou perde a bolsa. Eles priorizam muito o desenvolvimento do atleta não só para o esporte, mas para o mundo, sabem que a maioria não vai conseguir se tornar profissional, porém a maioria vai se dar bem futuramente em outras áreas.


E por algum tempo me perguntei se isso poderia funcionar. E a resposta é sim. Basta analisar nas olimpíadas, normalmente os EUA estão entre os primeiros colocados no quadro de medalhas e a maioria dos atletas são universitários ou são formados.

Isso se dar pelo desenvolvimento cognitivo do atleta, é algo que o brasileiro não entende. Quanto melhor o grau cognitivo do meu atleta, mais fácil dele entender a tarefa e resolver as situações que vão aparecer para ele durante os jogos.

Qual é o perfil atual do jogador de futebol nos Estados Unidos?

São jogadores bem disciplinados taticamente, porém sem o 1x1 que os brasileiros têm, sem a “malandragem”. Mas normalmente são jogadores muito bem taticamente.

Como é o mercado de trabalho para profissionais do futebol brasileiro que queiram trabalhar nos EUA? Quais são os principais desafios e dificuldades a serem superados?

A grande questão é: o que você está disposta a largar para tentar algo novo nos EUA?

Não é fácil trabalhar como treinador aqui porque você tem que ter permissão para poder trabalhar se não fica tudo mais difícil ainda, esse é o principal desafio. Quando vim à primeira vez larguei muita coisa no Brasil para poder ter essa experiência. Fiz um curso de treinador, me destaquei no curso e me convidaram para passar um tempo aqui.


Assim começou tudo nos EUA. Desde esse dia fui buscando oportunidades para chegar ao meu objetivo. Era uma experiência de apenas 2 meses, mas mesmo assim larguei uma empresa onde eu era cotado para ser o coordenador, deixei para trás amigos, família, etc.

E viajei para passar esses 2 meses trabalhando no Verão como experiência. Depois desses 2 meses fui convidado para o Outono e então passei mais 2 meses nos EUA. E assim tudo começou.

Mas, a maioria das pessoas não estão dispostas a pagarem o preço para tentar um sonho. Hoje estou colhendo muita coisa de escolhas que fiz no passado e continuo plantando para chegar onde realmente sonho.

O que é o treinamento mental avançado Pré-Competição?

O treinamento mental é um trabalho onde tem o objetivo de o atleta poder se conhecer melhor e criar objetivos para poder melhorar seu desempenho na competição. Onde ele possa entrar no estado de flow, que é o nosso principal objetivo com o atleta.

Mas confesso que não trabalho muito com atletas separadamente, fiz o curso de treinador mental para poder melhorar como treinador, pois percebi que a grande diferença entre os grandes treinadores não é a apenas a parte tática, mas saber lidar com cada atleta de modo especifico.

Cada um vai ter um modo especifico de se trabalhar. Alguns atletas reagem bem a pressão, outros não, alguns atletas reagem melhor a conversas individuais e outros você pode cobrar na frente do grupo. É função do treinador saber lidar com cada personalidade.

Quais as diferenças na metodologia do treinador americano para o treinador brasileiro?

Os treinadores americanos são muito físicos. Eles gostam de atletas fortes e com boa capacidade física. Os treinamentos muitas vezes são mais voltados para esse lado do que propriamente o futebol, a tomada de decisão do atleta, a criatividade, etc.

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