Considerada a cidade mais
indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira (AM) fica na região do Alto Rio
Negro, a mais de 850 km da capital amazonense, Manaus, e abriga 23 povos
indígenas diferentes, distribuídos em pequenas comunidades. Foi em um desses
núcleos, na comunidade de Paraná Jucá, que nasceu Edneia Teles, do povo
Arapaso.
Todas as quintas-feiras, entre
17h30 e 19h, Edneia e outras mulheres entram em campo, mais especificamente num
campo de areia, em São Gabriel da Cachoeira. Desde 2019, o grupo Centenárias
reúne mais de setenta mulheres, de 32 a 52 anos, que, por meio do futebol,
fortalecem umas às outras.
“A gente joga sem esperar um
título ou uma medalha, e sim para tirar o estresse. Chega de só trabalhar”, diz
Edneia, 40, que é coordenadora de jovens na secretaria de esporte e lazer da
cidade e também uma das cinco coordenadoras do Centenárias.
A paixão pelo esporte nacional
acompanha Edneia desde a infância. Já adulta, mesmo enfrentando preconceito,
atuou por três anos como meio de campo do time amador Nova União, até pendurar
as chuteiras, em 2017, por conta de uma lesão no joelho. “Mulher não podia
jogar. Era coisa de homem. Sempre tive que brigar pra outras mulheres não
passarem por aquilo que eu passei, vendo os meninos brincarem enquanto eu não
podia participar.”
Com o avanço da vacinação no
país, o Centenárias retomou suas atividades semanais. E a quinta-feira voltou a
ser o dia mais esperado por essas mulheres, que enfrentaram tantos momentos
difíceis durante a pandemia. Para Edneia, a retomada é mais uma prova do poder
transformador do esporte e da união feminina.
Fonte: Razões para Acreditar
Foto: Marcus Steinmeyer