domingo, 18 de julho de 2021

AUTISTAS CHEGAM À UNIVERSIDADE? NOVO COLETIVO DA USP QUER CONSCIENTIZAR SOBRE NEURODIVERSIDADE

Pouco compreendido pela ciência e carregado de estereótipos no imaginário comum, o autismo faz parte da vida de estudantes que chegam à universidade e cursam graduação e pós-graduação. O último Censo da Educação Superior de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que eles são pouco mais de 1.500 matriculados em cursos de graduação espalhados pelo País. Número que pode estar subestimado devido à dificuldade de diagnóstico e falta de acesso aos serviços de saúde especializados.

“É importante que as pessoas entendam cada vez mais sobre autismo, para que sejam menos capacitistas com autistas e não os subestimem”, alerta Priscila*, que tem 28 anos e cursa mestrado no Instituto Oceanográfico (IO) da USP. Ela obteve o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 27, mas suspeitava desde a pré-adolescência. “Eu não escondo que sou autista. Colegas e professores sabem. Até agora, tive a sorte de todos na Universidade serem bem abertos para aprender e entender minhas necessidades, mas tenho consciência de que nem sempre é assim. Muitas pessoas mantêm ideias erradas sobre o autismo e tratam autistas de forma infantilizada e preconceituosa. Isso acontece comigo no dia a dia, em todos os ambientes.”

Giulia Jardim Martinovic foi diagnosticada aos 5 anos de idade e diz que a vida de um estudante autista no ensino superior não é fácil. “Quando entrei na faculdade, em 2019, senti falta de apoio específico e vi amigos autistas desistindo de se formar.” Ela cursa a graduação em Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e relata ter ouvido histórias de discriminação no ambiente universitário. “Um rapaz me contou uma experiência muito ruim, em que um professor disse que a universidade não era lugar para ele, que ele deveria procurar um curso técnico.”

Foi pensando nessa importância de conscientizar a comunidade acadêmica sobre a neurodiversidade e necessidades de alunos autistas — além da criação de estruturas de apoio a essas necessidades — que Giulia resolveu fundar o Coletivo Autista da USP (CAUSP), do qual Priscila e Gabriel são membros. O maior objetivo da organização é ampliar a permanência estudantil de estudantes com o transtorno.

Coletivo Autista: uma rede de apoio

Criado no dia 12 de maio, o Coletivo, cujos membros são alunos que não necessariamente possuem o transtorno, conta com mais de 35 voluntários de diversas unidades da USP, que organizam as atividades do grupo. Atualmente, possuem mais de 1.300 seguidores no Facebook e também no Instagram.

Giulia conta que foi a vontade de que autistas não apenas ingressassem na Universidade, mas também se formassem, que a fez criar o Coletivo. “Meu sonho é ver autistas médicos, psicólogos, professores, jornalistas etc. Queremos essas pessoas porque elas pensam de uma forma muito original, fora da caixinha, e eu acho que o mundo será um lugar bem melhor com mais autistas se formando.”

Giulia destaca que o Coletivo Autista da USP é pioneiro no Brasil. “Pelas nossas pesquisas, não existe nenhum coletivo autista que apoie a permanência universitária, isso porque a maioria dos programas voltados a autistas é para crianças. Queremos nos expandir, e esse processo já começou com unidades na UFRJ, UFSC, UFRGS e Mackenzie.”

A iniciativa já rendeu premiação no Prêmio Diversidade USP, promovido pelo coletivo PoliPride da Escola Politécnica (Poli) da USP, com um 2º lugar geral e em 1º lugar na categoria Acesso, Inclusão e Permanência de grupos minoritários na USP.

Fonte: Jornal da USP

Foto: Reprodução

2 comentários:

  1. Temos que acreditar que eles são capaz e também apostar que vão conseguir entrar no mercado de trabalho.

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    1. Verdade e o mais interessante dessa reportagem que muitos outros grupos do Coletivo Autista se espalharam por outras Universidades Federais, Estaduais e Privadas de todo Brasil.

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