O glamour e a possibilidade de aproveitarem estruturas de alta qualidade que alguns atletas conseguem desfrutar a nível nacional ou global são verdadeiros contrastes do que muitos deles precisaram passar, em situações de adversidade, na luta para se tornarem profissionais.
Em mais uma das histórias que mostra o encanto que milhares de jovens no Brasil possuem pelo esporte, o meio-campista Raniele fez um relato tocante de como chegou até mesmo a passar fome quando atuava nas categorias de base do Fernandópolis, no interior de São Paulo.
Natural de Baixa Grande, município que fica a mais de 250 quilômetros de Salvador, o jogador de 24 anos de idade não tinha como se manter em outro estado e dependia, essencialmente, da precária estrutura que o clube paulista poderia oferecer.
“Era difícil, porque eu tinha duas opções: ou falava para o meu pai que estava morrendo de fome e ele ia falar para eu voltar para casa de algum jeito; ou eu ia para cima. Eu tinha o sonho de ser profissional, então eu precisava passar por aquilo ali. Eu estava no sub-20 ali (em Fernandópolis). Às vezes tinha refeição, às vezes não. A gente tinha que esperar o profissional comer, você vê a ‘rapaziada’ comendo e depois mal sobrava comida. Era tudo muito limitado. A gente treinava com fome, esperava chegar o outro dia. Quem tinha dinheiro, comprava comida. Quem não tinha, bebia água e dormia para no outro dia acordar e treinar. Era complicado, mas tive de passar por isso para aprender a valorizar o que eu tenho hoje”.
Tendo rodado por várias outras equipes até chegar ao Esquadrão (Ferroviária, Portuguesa, Jacuipense e Botafogo-SP), Raniele poderia ter iniciado a sua trajetória justamente no Esquadrão. Porém, tanto o Tricolor como o arquirrival, Vitória, o reprovaram nos testes feitos.
“Foi muito trabalho. Assim como fui recusado no Vitória, que fiquei até mais tempo, no Bahia foi uma avaliação e duas semanas de teste. Mas não tem nada de rancor, nem nada. Não era o momento, eu não tinha qualidade o bastante na época mas, conforme o tempo passou, eu evoluí e fiquei mais pronto para integrar o elenco. É um clube que eu sonhava jogar, um dos maiores do Brasil, o maior do Nordeste… Qualquer jogador sonha atuar aqui. Quando eu era moleque, não deu certo, mas agora deu. Tudo no tempo de Deus”.
Fonte: Lance
Foto: Felipe Oliveira / @ecbahia
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