domingo, 7 de fevereiro de 2021

CASA DA ESPERANÇA: EM FORTALEZA, MÃE DE SEIS FILHOS, SENDO DOIS DELES AUTISTAS CONSTRUIU UMA HISTÓRIA DE LUTA PELO DIREITO DE VÁRIAS PESSOAS COM AUTISMO E QUE HOJE É REFERÊNCIA NO BRASIL E NO MUNDO

Aos olhos dos outros, Fátima Dourado parecia estar fazendo tudo errado. Mãe de quatro filhos, sendo dois deles autistas, começou a namorar um rapaz mais novo, largou os empregos, investiu tudo numa doença que ninguém sabia o que era, o autismo, e não internou o filho que tinha graves crises. “Enlouqueceu. A vida dela acabou”, diziam sobre Fátima. Quanto mais ouvia isso, mais tinha certeza de que o desafio dado por Deus era imenso: o mundo não tinha lugar para os autistas, não havia médicos preparados para tratar e fazer um diagnóstico precoce, nem escolas que os aceitassem.

Fátima deu a volta por cima. Em 1993, fundou a Casa da Esperança, a proposta de oferecer uma vida plena e outros direitos inerentes a quem é diagnosticado com Transtornos do Espectro Autista (TEA). A instituição é uma das maiores organizações de atendimento a pessoas com autismo e suas famílias da América Latina.

E, se num dia, ela tinha apenas dez famílias apostando em sua ideia, nos dias seguintes, havia centenas de outras querendo fazer parte daquele sonho. Mulher engajada nos movimentos sociais e conhecida no meio político, diante das dificuldades, foi conquistando apoio e convencendo pessoas, empresas e governos a investirem na entidade. Hoje, a Casa da Esperança tem sede também no Pará e vários outros estados desejam não somente ter uma entidade que cuide dos autistas, mas sim uma Casa da Esperança.

Hoje, apenas a sede de Fortaleza, atende mais de 400 pessoas com autismo em regime intensivo, de quatro ou oito horas por dia e realiza mais de mil procedimentos ambulatoriais diariamente.

Referência no Brasil e no mundo, a Casa já recebeu inclusive elogios de Ami Klin, então coordenador do programa de autismo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. “Vim a Fortaleza para falar de pesquisas da mente e do cérebro social, das práticas de avaliação e tratamento que precisam ser adotadas para melhor servir crianças e adultos com autismo. Mas creio que mais do que ensinar, eu fui aprender o que pode ser feito com garra e amor, mas sobretudo, com uma visão clara e prática do que funciona e o que não funciona na realidade de pessoas com autismo.”

Sem ter mais nada a provar para os outros, resolveu ainda adotar mais dois filhos e hoje tem uma convicção: ser mãe, biologicamente ou não, requer adotar aquela pessoa do jeito ela que é.

Fonte: O POVO

Foto: Reprodução

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