Aos 8 anos, o menino Wantuir
Jacini escolheu trilhar os caminhos do judô para escapar do bulliyng praticado
por colegas de escola.
“Nunca precisei revidar o tapa
ou o soco. Mas o judô deu a confiança que faltava para dizer ‘chega’. Parei de
apanhar e me apaixonei pela atividade”, lembra.
Nas estradas que trilhou por
Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso, acabou chegando à faixa preta antes de
se formar em Educação Física. Ele só não imaginava que o esporte e a carreira
profissional se cruzariam. Percebeu isso quando passou a atender alunos
autistas e com transtorno de déficit de atenção (TDAH). Aos 35 anos, escolheu o
judô como direção a seguir.
Como professor de educação
física, especializado em fisiologia do esporte, Wantuir acabou cruzando também
com a área da psicologia infantil. Focou os estudos nas manifestações
comportamentais de problemas de saúde como o autismo, TDAH, bipolaridade e
outras síndromes.
“Todos eles, de alguma forma,
tinham alterações cerebrais que poderiam ser melhoradas ou desenvolvidas com a
prática de judô, conforme eu tinha constatado na elaboração do mestrado”,
lembra.
Há quase 6 anos, Wantuir
Júnior aceitou o desafio de ingressar na equipe do Instituto Priorit,
organização do Rio de Janeiro que foca não só no tratamento médico, mas também
o acolhimento global de crianças e adolescentes autistas, bipolares e com TDAH.
No total, já são 13 meninos e
meninas que, duas vezes por semana, recebem os ensinamentos de Wantuir. Três
deles têm déficit de atenção, dois são autistas, um é bipolar, um têm Síndrome
de Asperger e o restante algum problema de relacionamento social.
“O objetivo da aula é garantir
a autoconfiança, despertar a autonomia e mostrar aos meninos que eles podem ser
o que quiserem”.
Rafael Biachels de Oliveira,
16 anos, tem TDAH e foi o primeiro aluno de Wantuir. Ele diz que as aulas deram
não só mais consciência do próprio corpo – “antes eu andava e derrubava tudo,
agora parece que sei melhor o espaço que ocupo”, diz – como ajudaram a definir
o foco nos sonhos.
“É ano de vestibular e a minha
ideia é tentar entrar em medicina”, diz.
Talvez seja só coincidência.
Mas quando escolheu trilhar a rota judoca para o autismo, o TDAH e os outros
transtornos infantis, o educador físico fez jus ao significado da palavra judô:
“caminho suave”.
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