Uma das grandes promessas da
base do Fluminense, na mira de clubes como Liverpool e São Paulo, Wallace
precisou passar por um longo e tortuoso caminho para chegar a Xerém e mostrar o
seu talento. O meia, ainda criança, sofreu com a perda do pai e a prisão da
mãe. Precisou ser criado pela avó paterna.
Wallace é de Tanguá, na Região
Metropolitana do Rio. A cidade tem o quarto pior PIB do estado, segundo o IBGE.
Estima-se que só 12,3% dos 34.309 habitantes tenham alguma ocupação. Seus pais
viram no tráfico o caminho. O pai foi assassinado a dez metros do portão de
casa quando o jogador tinha apenas três anos de idade.
“Minha mãe foi presa logo
depois. Aí fiquei sem ninguém. Só eu e minha avó” conta Dáblio, apelido do meia
de 18 anos do sub-20 tricolor.
Criado pela avó Margarida,
Wallace viu sua vida mudar quando conheceu Igor Manhães, treinador de futebol,
que trabalhava num projeto social na cidade.
“Não sei se Papai do céu disse
‘aparece’. Mas fato é que eu apareci na vida dele. E consegui dar um caminho bom.
Se pensar na estrutura que ele tinha antes, poderia ter dado tudo errado. E tem
ainda aquela questão que falam do sangue. Mas conseguimos dar toda ajuda. A
família, as pessoas em volta, o clube…” conta Manhães, que abrigou Wallace
ainda criança em sua casa e ocupou a figura de pai em sua vida.
Com um pai treinador, o
futebol virou uma opção natural. Seus primeiros chutes foram no Profute, de
Itaboraí. Até que, num amistoso, chamou a atenção do Fluminense. Há sete anos
em Xerém, o meia de velocidade já acumulou elogios, títulos e passagens pelas
seleções de base.
Foi este sucesso que o fez
quase sair dos trilhos em 2016, ano marcado pelo deslumbramento e por muitas
brigas tanto dentro quanto fora de campo. Não gostava de ser repreendido nos
treinos: atirava o colete na grama e saía xingando. Uma rebeldia que só foi
controlada quando Manhães, comissão técnica da base e até a psicóloga do
Fluminense entraram em cena.
“Deixei subir à cabeça. Todo
mundo puxou minha orelha, porque só fazia merda. Era brigão, problemático. Vi
que estava errado e me prejudicando”, diz Dáblio.
Agora, com a cabeça no lugar,
é um dos destaques da base, chamando a atenção do Liverpool e do São Paulo. O
clube paulista, inclusive, passou a ter a prioridade na sua compra em troca do empréstimo
de Hudson ao Fluminense.
Fonte: O Globo
Foto: Mailson Santana – FFC